quarta-feira, 30 de abril de 2014

Caixa de pipoca ou lata de sardinha

Aquela criança não parava de pedir! Repetia sempre a mesma coisa: “Mamãe, me dá a pipoca!”.

Enquanto eu era empurrado e esmagado para subir no ônibus, observava uma linda jovem de cabelos escuros, esforçando-se ao máximo para pagar o pipoqueiro, temendo perder o ônibus que já estava partindo. Quando estava quase sem fôlego, consigo chegar ao cobrador. Por sorte, já estava preparado com o cartão de passe em minhas mãos.

O ônibus dá um tranco logo após eu passar pela catraca e ouço alguém reclamar que bateu a cabeça. Essa parece a única reclamação já que, pelo visto, todos já estão acostumados com esse tipo de ocorrência. Assim como um zagueiro desarma um atacante com um carrinho, aquela mesma criança da pipoca utilizava-se dessa peripécia, mas, dessa vez, para passar por baixo da catraca.

Confesso que não me surpreendi com a cena, já que desde cedo somos instruídos a dar um “jeitinho” para não termos que arcar com algum prejuízo financeiro, o que me faz lembrar da Copa do Mundo.
Um senhor de idade segurava um jornal. No verso, pude ver que se tratava da seção de esportes, na qual a matéria principal descrevia a morte de dois operários na Arena de Itaquera. Mais abaixo, uma manchete mostrava a frase em letras garrafais: “De fracasso em fracasso, o Brasil é campeão”.

Se a nação tivesse todos seus problemas resolvidos, não haveria problemas em sediar uma Copa. Mas acontece que aqui há pobres que se matam pela vida. A nova classe média são os “novos ricos” que se acostumaram a viver na miséria.

Na terra do pau-brasil, tudo foi pilhado. A corrupção é endêmica e o governo, sempre a mando do Banco Central e FMI, faz a pátria cambalear rumo ao desconhecido. O povo brasileiro é ingênuo e preconceituoso por natureza. E é aí que eles são pegos pela propaganda, comprometendo seus orçamentos muito acima do que seria possível.

O ônibus fez mais uma parada e o mesmo senhor de idade, que acompanhava as notícias de futebol, olhou para o garoto que lhe ofereceu a pipoca.

Com um semblante aparentemente feliz, ele aceitou. Não foram necessárias muitas mastigadas para que ele se engasgasse. O Brazil não é igual ao Brasil, que tentam esconder durante o período de festividades, pois o segundo, assim como o “velhinho da pipoca”, só quem o conhece pode dizer que falta pouco para o último suspiro.

por Ivan Carlos Vanzella

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